segunda-feira, 5 de outubro de 2015

The MetalVox

HATE EMBRACE – O Sertão retratado com coragem

julho 13, 2014 4:54 pm by: A+ / A-
hateembrace
Ao receber noticias sobre o lançamento desta banda pernambucana fiquei intrigado com o foco de suas letras: a saga dos cangaceiros. Particularmente, diante dos meus conhecimentos do assunto (confesso que não são profundos), estranhei tal abordagem. Contudo em conversa preliminar a esta entrevista com o solícito baterista Ricardo Necrogod este me relatara que fizera uma extensa pesquisa e que a História sobre tal temática era bastante reveladora. Além do mais o Hate Embrace aditiva a seu Death Metal certa melodia, o que salvo as devidas proporções e uso de instrumentos dos mais diversos me lembrou um pouco o Septic Flesh no que concerne a estrutura da musicalidade dos pernambucanos. 
1 – O Hate Embrace tem influencias extremas, bastante extremas (Krisiun, Suffocation, Rotting Christ, Behemoth e etc), contudo tem em sua lineup uma tecladista, contrastando com toda a brutalidade sonora praticada, algo bem paradoxal em se tratando de bandas extremas.
Ricardo Necrogod (baterista ) – Primeiramente obrigado pelo espaço aberto à banda. Bem as influências extremas que seguimos desde o nascimento da banda é refletido nas composições, com peso nas guitarras, baterias rápidas e outras vezes cadenciadas sempre variando. O teclado entra como um diferencial, até porque sempre tentamos deixá-lo de uma forma que sempre entre em momentos inesperados pelo ouvinte.
2 – Acredito que devem ter sofrido duras críticas pela “dicotomia” brutalidade/melodia, por acaso foram “acusados” de serem uma banda de Death Metal melódico,srsrrsrs?
Ricardo – Não, até hoje os comentários sempre foram positivos. Eu vejo a Hate Embrace de forma bem simples “existem pessoas que gostam e existem pessoas que não gostam”,respeito muito as opiniões e isso fortalece muito a banda. Sobre ser conceituado como Death Metal melódico , isso também nunca aconteceu, mas como disse respeitamos muito a opinião de cada um.
3 – A banda no álbum anterior, usara uma temática bem diferente da atual. “Sertão Saga” é um álbum conceitual e focado em figura lendária da cultura nordestina: Lampião. Qual foi o insight para tamanha mudança de temática lírica?
Ricardo – Depois que lançamos a demo a banda passou por varias mudanças.Muitos momentos que ficamos parados, tínhamos algumas musicas que não tinham entrado na demo e que pensávamos em usar ou em uma segunda demo e um possível álbum. Nesta época (2009) a ideia de se fazer um trabalho voltado ao Sertão já estava em minha cabeça, então comecei a fazer bases e letras, sempre achei que dava para fazer um trabalho com influências regionais sem perder a essência Death Metal. Em 2010 em uma conversa com todos da banda achamos melhor segurar um pouco mais o “Sertão Saga” e lançar um álbum com as músicas que ainda tínhamos da demo (sobras que não entraram na demo), e assim lançamos o “Domination Occult Art”. Seguramos o “Sertão Saga” por quatro anos pois acreditávamos que não era o momento certo para lançar e acredito que estávamos certos.
4 – Hummm então foi algo estratégico? Primeiro “apostar” numa temática mundial para depois fazer uma imersão na nossa cultura regional?
Ricardo – De certa forma sim. Acreditávamos que lançar um álbum como “Sertão Saga” naquele momento não seria bom, pois a banda não era conhecida nacionalmente, apenas em Pernambuco e alguns estados.O “Domination Occult Art” foi bem divulgado e isso ajudou muito.
5 – Entendo, seu foco nesta temática lírica revela uma coragem enorme diante de um país continental e com tanto preconceito em relação ao Nordeste – fato, não quero ser bairrista, mas isto é notório. Agora nos revele como se deu esta pesquisa toda?
Ricardo – Muito trabalho, mas muito prazer também. Pois desde os trabalhos iniciais na demo e no primeiro álbum sempre buscamos fazer um trabalho serio em cima de pesquisas.Com o “Sertão Saga” não foi diferente, nossas fontes foram livros de pesquisadores do cangaço ( Frederico Pernambucano, Rosa Bezerra, Paulo Moura, Roberto Tapioca),sites que também davam ótimas informações e histórias que são contadas para o povo desde a época do cangaço.
6 – Agora me permita uma observação, Lampião, os cangaceiros, eram facínoras, marginais/bandidos da pior espécie; afinal matavam, roubavam, estupravam, cometiam crimes dos mais variados. Não me parece salutar enaltecer a memória de gente desta estirpe. Esta romantização a la Robin Hood de um herói marginal não condiz com a realidade dos fatos.
Ricardo – Primeiramente é bom saber que naquela época, onde a informação principalmente tirada do cangaço para os jornais , eram trazidas pelas volantes e traziam a meu ver ” a verdade que queriam”. Claro que houveram muitas atrocidades feitas pelos cangaceiros, mas achar que a volante tratava com carinho todos aqueles que apareciam em sua frente é algo utópico até porque estavam caçando. Como já disse muitas vezes é um fato histórico presente em nossa região e achamos que deveria ser contada. Quem nascia em um sertão naquela época vivencia uma injustiças de todos os tipos, políticos corruptos, o coronelismo, as rixas entre famílias. As injustiças já nasciam junto com aqueles que abriam os olhos pela primeira vez até aqueles que fechavam pela última. Lampião nasceu de um homem que viveu em um sertão de caos e que optou em viver da forma como queria justamente por não acreditar mais em justiça neste mundo. Hoje com os pesquisadores podemos realmente saber como tudo acontecia e não apenas por um ponto vista. A Hate Embrace procura apenas trazer os fatos, justamente por isso as duas ultimas musicas são sobre a caçada da volante ao Lampião.
Por fim, quando estamos em estado de guerra não há heróis nem bandidos, o que há são jogos de interesses, jogos esses que eram antagônicos de um lado o governo e do outro o fenômeno do cangaço. Temos muitas interpretações acerca da conduta dos cangaceiros, mas lembremos que antes de tudo, eles eram humanos, assim como a volante também era, neste sentido, seria falacioso resumir o movimento do cangaço a “estupradores”, “facínoras” e outros termos, pelo simples fato de que nenhum dos lados desta história estavam isentos de cometer qualquer atrocidade do tipo. Acredito que Maquiavel estava pensando em questões similares quando a seis séculos atrás disse: “quem num mundo cheio de perversos pretende seguir em tudo os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a própria perdição.” NE: volante era o nome dado ao agrupamento policial encarregado de “caçar” os cangaceiros pelo Sertão.
7 – Uma excelente abordagem, um outro ângulo da questão, contudo agir por conta própria para cometer “justiça” é de certa forma admitir a barbárie, reduzir a condição humana a níveis baixos de civilidade. Por outro lado é realmente um fato histórico que naqueles tempos o dinheiro sobrepunha tudo, aliás até hoje isto acontece de forma velada. Voltemos a questão musical, o HE contou com inúmeras participações no álbum nos conte como se deu estas participações, as escolhas foram feitas em cima do background de cada um dos convidados?
Ricardo – Bem sobre os convidados no álbum, a maioria temos contato pessoal em eventos e também no dia á dia aqui em recife (apenas Silvério Pessoa e a jornalista e pesquisadora Wanessa Campos foram contatos que conheci pelo facebook ), sendo assim ficou fácil de ter suas participações no álbum. Procuramos colocar cada participação nas músicas que realmente sentimos ligação com o mesmo. A experiência que cada um trouxe foi fator determinante nesta escolha e acreditamos que acertamos nas escolhas.
8 – Álbum conceitual com tema polêmico e com fundamentação histórica conforme relatado acima, a arte gráfica também reflete todo o conceito lírico, esta ficou sobre seu encargo. Nos conte como foi a concepção da mesma.
Ricardo – Inicialmente digo que sem os conselhos de Tamy Daksha acredito que não conseguiria chegar ao nível que chegou toda a arte do “Sertão Saga”. Já trabalhamos em encartes para o Sodoma da Paraíba, e no encarte do primeiro full da Hate Embrace, juntos conseguimos fazer trabalhos bem legais. A concepção da arte para o álbum é baseada principalmente na nas artes das capas das literaturas de cordel , que é uma marca registrada dos artistas do sertão. Sempre no preto e branco resgatando a ideia da simplicidade, para que o retrato de uma época se mostra-se nas mãos de qualquer pessoa que adquira o nosso cd.
9 – Muito bom, fidelidade à nossa cultura nordestina em todos os sentidos. O álbum tem pouco tempo de lançado, como está a receptividade diante de tamanha coragem em abordar um tema regional?
Ricardo – Meu nobre Jaime até agora só elogios, estamos saindo em vários sites, em resenhas em blogs e todos estão curtindo muito o trabalho da banda.Todos entenderam que o novo álbum traz algo de diferente.Você escuta e sabe que é um Death Metal tradicional, mas que á algo de diferente neste som.
10 – Que bom, fico feliz, ainda não fiz o review mas ouvi o álbum e gostei. Bem acredito que os que prestigiam o TheMetalVox puderam conhecer um pouco mais da história do Hate Embrace, fique à vontade para enviar sua mensagem final.
Ricardo – Agradecer o espaço cedido por você Jaime que também esta na batalha,aos grandes Guerreiros amigos. A Hate Embrace agradece a consideração e apoio, estamos firmes e fortes procurando nosso espaço de forma justa e sincera, um muito obrigado a todos m/.
Por: Jaime Amorim

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