quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Hellcife Fest
Evento: Hellcife Fest
Data: 08/12/2012
Local: Bar Novo Pina. Rua da Moeda - Recife Antigo. Recife/PE
Bandas:
- Hate Embrace (Death Metal – PE)
- Malkuth (Pagan Black Metal – PE)
- Mystifier (Black Metal – BA)
- Headhunter D.C. (Death Metal – BA)

Resenha por Valterlir Mendes
Fotos: Antônio “From Hell” Marques e Valterlir Mendes


O evento Hellcife Fest surgiu como um piloto, um teste, para um festival que a Crono Produções pretende realizar anualmente. Para essa primeira edição, nada menos que três lendárias bandas do Underground Nordestino: Malkuth, Mystifier e Headhunter D.C., além da grata promessa pernambucana Hate Embrace.

Mesmo com um ‘cast’ de peso desses, muitos reclamaram dos valores dos ingressos, nas redes sociais e até mesmo pouco antes do evento ter início, num local arranjado bem em cima da hora.

Com relação ao local que ocorreria o evento, inicialmente seria o Teatro Maurício de Nassau, também no bairro do Recife Antigo, porém devido a alguns problemas ocorridos em citado local, a produção teve que se desdobrar para arranjar um novo local: o Bar Novo Pina. Eu ainda não conhecia, e até pensei que era uma espécie de bar mesmo. Porém, chegando ao local, fui informado que o evento ocorreria na cobertura, tipo aquele lendário clipe dos Beatles. Também fui informado que há alguns anos aconteciam diversos shows de bandas de Hardcore. Bem, só pude ver o tamanho do local quando subi, e notei que era bem pequeno.

O Bairro do Recife Antigo sempre abraça diversos estilos, diversas pessoas e diversas “tribos”, termo que nem gosto de citar. Cada um com sua vertente, cada um com sua diversão, e o bairro com muitas pessoas, inclusive os famosos “camisas pretas”, que não estavam em tão grande número, mas ao menos se esperava que lotassem o local.

Novamente pude viajar com alguns Bangers de Macaparana, tomando uma boa cerveja, ouvindo um som e trocando ideias a respeito do evento que ocorreria logo mais. Chegamos por volta das 21h00, horário que foi anunciado pela produção como aquele que teria início os shows. Bem, fui informado pela banda de abertura que ocorreria um atraso, e o atraso foi bem longo mesmo…

O Hate Embrace só deu início ao seu show quando já passava das 23h00. Um pequeno público esperava a apresentação da banda, que ainda acertava alguns detalhes no palco antes de iniciar o seu show. Por falar no palco, ele era pequeno, mas bem cuidado. E ficou ainda menor com o sexteto do Hate Embrace, que teve que se virar para “caber” no palco. As 23h15 tinha início o primeiro show. A banda vem numa boa crescente, tendo lançado um ótimo álbum de estreia, o qual serviu como base para o ‘set list’ executado nessa apresentação. Como sempre, a banda mostrou um grande profissionalismo, com o instrumental sendo executado de forma fidedigna ao que podemos ouvir no CD, porém durante boa parte do show houve problemas com os vocais de Freddy Houde e apenas os vocais feitos pelo guitarrista Thiago Styrken podiam ser ouvidos de forma mais clara. Esse problema durou no decorrer das três primeiras músicas e só quando começaram a executar “The Father Sun” o problema foi sanado. Como era de se esperar, o show do Hate Embrace foi curto, porém com a energia que se espera da banda, que faz um Death Metal com características bem próprias, abrangendo uma temática oculta e que nos faz lembrar temas egípcios, com o uso bem encaixado de teclados e melodias bem apuradas e empolgantes. No ‘set’ a banda aproveitou para apresentar a nova música: “Ancestral”, que mantém a pegada característica do Hate Embrace.

Mesmo o show da primeira banda não sendo longo, houve uma grande demora para que a segunda banda começasse sua apresentação. Então o pessoal aproveitou para descer para o andar inferior, olhar e comprar o merchandising das bandas, tomar umas cervejas ou simplesmente aproveitar para sentar e descansar um pouco as pernas.

Depois de muito tempo para ajustes no palco, o Malkuth dava início ao seu show, o qual apresentava ao público da capital pernambucana e cidades vizinhas o retorno de Nightfall para os vocais. Novamente os vocais principais apresentaram problemas e estava muito baixo. Mesmo assim Nightfall mostrou bastante energia, emanando uma fúria incrível, inclusive descendo do pequeno palco e literalmente cantando junto ao pequeno público. A banda faz uma mescla entre o Black e o Pagan Metal, inclusive nas letras. As músicas apresentadas iam de momentos de maior rispidez para algo mais místico e de levada mais cadenciada e com melodias apuradas. A banda tem quase duas décadas de formação, e mesmo com as várias formações, se mantém bastante ativa, sendo a banda pernambucana que mais lançou álbuns no meio Underground. Porém o ‘set’ foi curto para abranger uma carreira tão longa e de tantas músicas. O foco foi o atual CD, “Strongest”, de onde executaram quatro músicas: “Age of the Ax”, “Only Strongest”, a violenta “I Am Terrorgod” e a mística “Sol Negro”. Mas foi em “Azimã: The Doctrinator of the Sexual Arts” que tive uma grata surpresa. Não me lembro de já ter conferido essa música sendo tocada ao vivo. Foi muito bom poder ouvir Nightfall e toda a banda a executando, de forma primorosa. Saliento que essa música faz parte do ‘debut’ álbum da banda: “The Dance of the Satan’s Bitch”. O curto show foi finalizado com “The Voice of Hastur”. Novamente pude conferir um excelente show do Malkuth, que além de Nightfall conta com Sir Ashtaroth (guitarra/backing vocals), Gladiathor (bateria) e o músico convidado Diego D’Urden (baixo e teclados).

E nova espera e ajustes de palco. O horário já era avançado e era perceptível, no semblante de alguns, o cansaço. Mesmo com isso, ninguém arrendou o pé, e alguns procuravam, de alguma forma, descansar para os próximos shows.

Em alguns momentos, alguns acontecimentos, tem aquela coisa de se falar: “a espera valeu à pena”. Essa máxima se aplica ao que o público iria presenciar na já madrugada do domingo. Fazia um tempo que o Mystifier não tocava em terras pernambucanas, mas todo esse hiato e ainda a demora para ajustes de palco fez valer realmente à pena. Dessa vez nenhum problema aconteceu com a parte vocal, e foi possível ouvir toda a fúria emanada por Kastyphas. E olha que o cara não perdeu a energia um só segundo, fazendo vocais fortes, mesmo que por algumas vezes soando com algum tipo de efeito, obviamente nada que atrapalhasse sua performance insana, que não se limitou apenas aos vocais, mas também nas linhas de baixo (bem audíveis) e nos teclados, chegando a fazer, espantosamente, as três ao mesmo tempo. O show foi absurdamente violento, do primeiro ao último minuto, onde a banda – informação dada até mesmo por Beelzeebubth (guitarra/backing vocals) – executou apenas músicas dos seus clássicos dois primeiros álbuns: “Wicca” (1992) e “Göetia” (1993). O show foi iniciado com uma espécie de oração profana, um pouco longa, que depois abriu espaço para músicas do primeiro álbum: “(Invocacione) The Almighty Sathanas” e “Osculum Obscenum”, foram duas delas. Depois vieram pancadas como “Aleister Crowley and Ordor Templis Orientis” e “Beelzebuth”, só para citar algumas. Então era de se esperar que o público recebesse tais clássicos com a mesma energia que a banda tocava no palco. Assim, foi possível ver algumas rodas sendo formadas e o público realmente curtindo uma performance insana, que deixou a todos espantados de forma positiva. Notavam-se, também, alguns efeitos nos backing vocals de Beelzeebubth, e isso deixava as músicas com um toque mais doentio e obscuro. A voracidade e a pegada Death Metal no seu Black Metal deixou a música do Mystifier ainda mais poderosa, e se somar isso aos clássicos que eram executados, o show não poderia ter sido menos que perfeito. A banda procurou sempre se comunicar com o público e falar sobre a força que o Metal nordestino tem. Até uma camiseta da banda foi jogado para o público, durante a apresentação. O Mystifier se mostrou bem comunicativo, mas foi notório que o ‘set’ foi encurtado em razão do avançado da hora. Os comentários começaram a surgir antes mesmo do fim da apresentação, com todos elogiando a performance do grupo. Para fechar de forma totalmente insana, um cover maravilhoso para “Nightmare” do Sarcófago! Restariam forças ao público para o último show?

Claro que ainda sobrariam forças para o último show! Mesmo passando das 03h00, o público que compareceu para prestigiar o evento, mesmo pequeno, permaneceu até o último show. O Headhunter D.C. é uma banda que dispensa apresentações e dona de uma carreira imaculada, sempre fiel as suas raízes e ao verdadeiro Death Metal, como só o próprio Headhunter D.C. sabe fazer. A banda vem divulgando o seu mais recente álbum, “...In Unholy Mourning...”, mas não se prendeu a apenas músicas desse álbum, já que existem vários clássicos gravados pela banda em sua longa carreira. Após “Funeral March”, uma “Intro”, a banda mandou “Dawn of Heresy”, que colocou os pescoços cansados a se mexer. O potencial da banda é gritante, e a parte instrumental estava soando magistralmente bem definida. Isso fez engrandecer ainda mais o show. Parte do público ainda formou algumas rodas de mosh, mesmo com o cansaço aparente, e isso mostra todo o poderio dessa lenda baiana do Death Metal. O vocalista Sérgio “Baloff” Borges, como sempre, se mostrou bem comunicativo, falando da importância de toda a cena nordestina para o Metal nacional. Pena mesmo foi só o avançado da hora e o cansaço que se abatia no público. Mas tal cansaço não fez com que o público poupasse o restante das energias, e nem poderia, ainda mais com “Deny the Light” e “Stillborn Messiah” sendo executadas. A banda também deu um “passeio” no seu passado e nos apresentou as jurássicas “Am I Crazy” e “Death Vomit”, recebidas com muita empolgação pelos presentes. Durante a execução de “God’s Spreading Cancer...” Sérgio usou a sua típica frase “quem não bater cabeça é poser”, para não deixar ninguém com a cabeça parada. Vale mencionar que as guitarras de Paulo Lisboa e do “novato” George Lessa estavam afiadíssimas, sejam nos riffs ou nos solos. Impressionante, também, como a banda executava as músicas que beiravam a forma como foram gravadas. Isso só demonstra toda a qualidade que o Headhunter D.C. tem, seja em estúdio ou em cima de um palco, seja esse palco de grandes proporções ou de menor porte. O intuito da banda é sempre se manter fiel consigo mesma e com os seus admiradores, não importando o número que esteja em um show para prestigiá-los. Foi isso que vimos no Hellcife Fest, uma banda que respeita totalmente aqueles que admiram sua música. Pena que o ‘set’ teve que ser reduzido, com isso deixando de fora a excelente “Conflicts of the Dark and Light”. Mas o final veio com uma das melhores músicas do novo álbum: “Hail the Metal of Death” é uma excelente música, ainda mais para terminar um show de Death Metal.

Mesmo com todos os percalços, a Crono Produções, em momento algum, cogitou em cancelar o Hellcife Fest, e isso só demonstra o respeito que a produtora tem com os fãs de Heavy Metal. O local era pequeno, mas mesmo assim o público não chegou a lotar. Esperava-se mais, ainda mais em razão de o ‘cast’ envolver grandes nomes do Underground nordestino. A parte sonora estava num bom nível, e só não foi perfeita em razão dos problemas com os microfones. A única parte que deve ser revista é a relacionada com os horários. Mesmo com apenas quatro bandas, o festival se estendeu muito. Além de ter começado atrasado, houve grandes intervalos entre uma banda e outra. No fim, o público fica muito cansado, seja pela bebedeira ou até mesmo pela labuta do dia. Tirando esse pormenor, todos ficaram satisfeitos. Ótimos shows e que o público comece a comparecer em maior número, só assim para que festivais dessa natureza possam ter outras edições.

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